quarta-feira, 17 de agosto de 2011

GOIÂNIA: O CENTRO, O "HOMEM DA COBRA" E AS NOVAS CENTRALIDADES

Ao caminhar pelo centro de Goiânia, numa manhã de sexta feira, observava atentamente o movimento e a paisagem deste lugar carregado de histórias, vida, cultura e tradição. Mas o que há de tradicional no centro de Goiânia? As sacadas Art'Decó? Os jardins reformulados da Av. Goiás? O Coreto, o Relógio ou a estátua do Bandeirante Anhanguera? Seria a Estação Ferroviária? Fisicamente sim, mas na verdade queria encontrar a tradição vivida, os costumes e os habitos daqueles que frenqüentam o centro de Goiânia.

Primeiramente, me lembrava das dimensões do centro em minha vida de criança e as comparava às dimensões de minha vida adulta. Será que o Centro diminuiu? Como ele era grande quando eu era criança!! Toda a cidade de Goiânia pra mim era o Centro. A multiplicidade de olhares, cores e gestos daqueles que ali perambulavam. Madames requintadas, homens de terno, mulheres de blusas de lã no inverno goianiense que - acreditem!!! - fazia muito frio. Acordava às cinco horas (5h) da manhã para acompanhar minha mãe ao trabalho dela que ficava "lá em Goiânia", forma como ela se referia ao Centro da nossa capital.

Radinho ligado enquanto nos preparávamos para a aventura de ir ao Centro de Goiânia. Na trilha musical sertaneja de Trio Parada Dura a periferia de Goiânia acordava para mais um dia de trabalho, a música "Bruza Vermelha" era a predileta de minha mãe. Nessa época ainda não tinha o "curral" - terminal de ônibus urbano - próximo ao Capuava. O "curral" mais próximo ficava no Setor Rodoviário próximo ao DERGO - Departamento de Estradas e Rodagem de Goiás e por isso se chamava "Curral do Dergo", mas hoje são conhecidos como "terminais" então hoje é o Terminal do DERGO, mesmo o Dergo não existindo mais.

Tinhamos que pegar um ônibus que vinha do Recreio dos Bandeirantes e descer no "Curral do Dergo" para depois entrar no "Transurb" - como era conhecido o Metrobus de hoje que faz a linha do Eixo Anhanguera. Como a viagem era longa. Como custava chegar no Centro de Goiânia. Era mágico ver a Praça do Bandeirante cheia de pessoas vindas de todos os lados, de outros ônibus e outros "currais". Todos se encontravam ali, no encontro da Av. Anhanguera, que faz  a via leste-oeste, com a Av. Goiás, que faz a via norte-sul da cidade.

Minha mãe, uma humilde e simples migrante do sertão goiano, trabalhava nos serviços gerais do Edifício Trianon, situado na Rua 4, próximo à Av. Tocantins e ao Teatro Goiânia. Me lembrava bem do tradicional Café Central próximo à Praça do Bandeirante e que era frequentado por um monte de senhores vestidos de branco e chapéu de palha. Depois, quando adolescente, descobri que esses senhores "simpáticos" não passavam de Coronéis poderosos que combinavam ali mesmo, o preço da vida ou da morte daqueles que eram contra eles em suas áreas de influência de suas cidades interioranas e suas fazendas. Ali a morte de muitos trabalhadores e trabalhadoras foi negociada com jagunços.

Logo em frente tinha a "imensa loja" Magazine Central, como me impressionavam aquelas roupas e calçados expostos em suas vitrines. A Rua 4 era uma verdadeira "feira-livre" onde lojistas e ambulantes disputavam no grito a preferência daqueles que ali faziam suas compras ou passeavam pela rua. Mas como os arranha-céus eram grandes e a Rua 4 não tinha "fim" e eu pensava: Será onde essa rua vai terminar? Será que lá é o fim da cidade? Me divertia com a gritaria dos "turcos" - forma como as pessoas da cidade tratavam os árabes comerciantes da Rua 4. Peça um  desconto e nem resposta você ouvia, mas quando ouvia era quase sempre negativa. E o que dizer dos ambulantes nas ruas da cidade? Suas mágicas, suas brincadeiras, seus produtos diversificados. Eram raizeiros, curandeiros, palhaços, cantores, sanfoneiros, malabaristas e o famoso "Home da Cobra". Como ele chamava a atenção das multidões! Com suas caixas de madeira com cobras e vidros de raízes. Com seu microfone e sua caixa de som ficava ali falando o dia inteiro. Até hoje quando uma pessoa fala muito se diz: "esse conversa mais que o homem da cobra!".

Bom, mas todos que iam ao Centro faziam quase tudo que tinha de fazer, compras, trabalho, estudos e os serviços públicos essenciais da Prefeitura ou do Governo Estadual, além é claro dos serviços bancários concentrados ali. Hoje, apenas os serviços bancários estão como antes. Muita coisa mudou. As escolas estão vazias, colégios tradicionais esvaziados como o Liceu de Goiânia, que quase foi extinto e o Rui Barbosa que se fechou de vez. As tradicionais escolas deram lugar para cursinhos preparatórios para o vestibular e concursos públicos e cursos profissionalizantes. As grandes lojas de roupas e departamentos, assim como os grandes supermercados que também migraram do Centro, deram lugar para lojas médias e pequenas e para o comércio coletivo como o Mercado Aberto e o Camelódromo com seus produtos importados e de confecções locais.

Os Cinemas deram lugar para Igrejas Evangélicas, Centros Comerciais ou Cines Pornôs. O Centro de Goiânia sentiu com a perda de parte de sua população que migrou para condomínios de luxo construídos nas periferias e com o fenômeno metropolitano do surgimento de novas centralidades. Novos lugares dinâmicos em que a população mais distante não precisa mais pegar o ônibus no "curral" para ir a "Goiânia" fazer suas compras ou consultar no médico e ainda estudar. O crescimento dos Shoppings Centers também vem tirando público do Centro da Cidade e padronizando os lugares e as pessoas que frenquentam esse ambiente "global" ou espaço "globalizado".

Mas o Centro é dinâmico em todas as suas dimensões sociais, sejam elas culturais, ambientais, econômicas e estruturais, etc. Ele se adapta à sua nova realidade descentralizada. Ele ganha um novo sotaque, deixando pausadamente o uai e passando para a prática maior do oxente, ôxe, e um xiado nortista e nordestino que vai soando pelos ares centrais em gritos que perambulam pelas calçadas. É grande o número de pedintes, assim como era também ha tempos atrás, mas são várias as paredes pichadas por gangues urbanas que temporalizam a cidade na sociedade contemporânea. O fluxo entre a Praça Cívica e o Terminal Rodoviário é grande e constante. Não se vê mais as madames e nem os homens de terno como se via antes. As vitrines estão dando espaços para cabides "penduarados" em bancas populares.

O Centro se proletarizou e se tornou o espaço do trabalhador e da trabalhadora não apenas para o exercício de suas profissões mas também para o exercício de suas cidadanias. A elite saudosista tenta manipular por meio dos órgãos de imprensa que o "Centro se Marginalizou", está morto e necessita de "revitalização". Morto pra quem? Marginal por quê? Por que agora a mamãe não vai mais lá para o trabalho árduo dos serviços gerais de um arranha-céu e sim para fazer compras? Ainda se vê os velhos e tradicionais barzinhos das esquinas das paralelas 68, 70, 72 e 74 pulsando vida e alegria. O tradicional Biscoito Pereira ainda faz seu pão de queijo quentinho que alimenta ricos e pobres que frenquentam este estabelecimento.

A Praça do Bandeirante já não existe mais e com ela se foi o "Home da Cobra", com sua multidão. Mas eis que olho para o calçadão em frente à "falecida" Praça e vejo uma aglomeração de pessoas em volta de um homem falante com um monte de sacolas. Me aproximo e vejo duas caixas de madeira com furos redondos como se fossem para algo respirar ali dentro. Uma típica caixa de transportar animais. Logo ouvi um transeunte dizer: é o homem da cobra. Percebi, que haviam umas moças curiosas, assim como eu naquele momento, para saber que troço era aquele que ele escondia ali dentro, ele dizia que eram cobras. O homem não era o velho "Home da Cobra", até por que o tempo teria sido muito amigo dele, pois era muito jovem. Mas com as mesmas graças, brincadeiras e piadas para chamar a atenção das pessoas que ali se aglomeravam.

Naquele instante, o velho Centro me meio à mente. Me pareciam as mesmas pessoas que na correria da metrópole tiram um tempo salvador para sorrir um pouco, para exercitar a curiosidade e a distração diante da correria que sufoca e aliena a vida dos trabalhadores e trabalhadoras de Goiânia. Ali se esquecia das contas a pagar nos bancos que estavam nos arredores, se esquecia as pressões por entregas de encomendas com horas marcadas, se esquecia também que o Centro não é mais o mesmo de antes. Mas que sua alma e sua vida ainda está no fato de ainda ser frequentado por esses que conseguem com muito suor dinamizar o tão "mórbido" Centro de Goiânia.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Futebol, Torcidas e Violência Urbana

Ultimamente, a mídia local vem, cada vez mais, destinando considerável parte de sua programação para abordar o problema da violência entre torcidas organizadas. Goiânia vem se tornando palco de lutas, quebra-quebra geral, arrastões, pichações e mortes causadas pela violência entre grangues de torcidas organizadas. Os efeitos de tudo isso podem ser observados na ausência, cada vez maior, de torcedores no Serra Dourada, palco "sagrado" do futebol goiano.

Se considerarmos a evolução demográfica de Goiânia e sua região metropolitana torna-se inaceitável a queda de público em nosso maior estádio de futebol. Chegaram a dizer que Goiânia não suportaria três equipes de grande porte em seu território. O futebol goiano já levou multidões aos estádios em época de pequena população. Goiânia E. C., Vila e Atlético levavam milhares de torcedores ao Olímpico e ao Serra Dourada em um passado não muito distante. Depois veio o crescimento do Goiás e com ele uma nova gama de torcedores jovens que viram o clube conquistar vários títulos, disputar a principal competição do país e ainda alcançar o recorde de títulos seguidos de penta-campeão que pertencia apenas ao galo goianiense. Quatro torcidas faziam a festa do futebol goiano até o início da década de 1980, quando Atlético e Goiânia E. C. começaram uma incrível decadência administrativa que derrubou o futebol dos dois clubes para o fundo do poço.

Então, por que um decréscimo tão significativo no número de torcedores que frenquentam os estádios hoje e por que tamanha violência? É bom ressaltar também o papel da imprensa local bipolarizando Goiás e Vila como as únicas forças do futebol regional capaz de ser considerados como a "alma do futebol goiano". Mero engano, o trabalho realizado serviu apenas para agravar o problema da violência urbana que se apresentava em Goiânia como nas demais capitais do Brasil que se metropolizava. O fenômeno da violência urbana é mundial e se manifesta em guetos e gangues urbanas que se materializam com os problemas sociais gerados pelo sistema capitalista de desigualdades sociais que colocam as pessoas cada vez mais distantes de seus sonhos e desejos em contrapartida à realização de sonhos de uma pequena parcela da sociedade que domina o sistema financeiro e produtivo.

A vida urbana não absorve o mundo solidário do campo, em que mutirões e festas coletivas eram realizadas com a participação de todos, do cafezinho na casa do cumpadre e da comadre e de um jeito simples e companheiro de lidar com seus vizinhos. A vida na cidade é a vida de cada um pra si. Do se vira sozinho e da desconfiança. Mais que isso, a disputa individualista é importante para o sistema capitalista pois o mercado de trabalho exige que a classe trabalhadora se mate para conseguir o mercado e nessa disputa não vale a solidariedade.

Para piorar a situação, milhões de jovens são lançados ao submundo social das drogas e do crime por conta de suas situações socioculturais agravadas pela falta de uma estrutura familiar presente em sua formação cidadã e de condições necessárias para frequentar uma sala de aula, dividindo os estudos com o trabalho precoce. Esses jovens gastam todas a suas energias, produzidas pela fase hormonal da adolescência e da juventude, na violência urbana, sendo o espaço urbano um lugar "ideal" para realização de seus desejos, seus anseios e suas adrenalinas. Dessa forma, descarregar todo o mal sofrido na vida em algo banal e corriqueiro como a rivalidade entre clubes de futebol parece ser uma "saída" para se perder de vez no mundo imaginário da "honra" humana e machista de seus membros.

O futebol passa a representar o pênis e o gogó dos integrantes das gangues futebolísticas, toda a sua masculidade e seu vigor humano passa para o futebol. Mas que sai dos gramados para as arquibancadas e ruas sem as bolas, mas com as balas de armas de fogo, facas e paus que expressam a glória imbecil da conquista do nada, vista por nós, seres "comuns" da vida real, mas vista por eles como tudo em suas vidas, por que, o que restou a eles como espírito de lutas e conquistas está na derrota sanguinária do adversário, da dor e do sofrimento proporcionado em batalhas que levam ao mutilamento e à morte daqueles que perdem.

Diante de tudo isso, convivemos com a hipocrisia da imprensa e das autoridades que vivem a fazer de conta que esses problemas são desconexos da vida real. Que são fatos isolados e que batendo em um grupo aqui, outro ali, vai resolver o problema, ou então, agem como se não tivesse nada pra fazer já que a "violência é um problema social" e o futebol não tem nada com isso.

É preciso encarar a violência entre as torcidas como uma política pública de estado, ou seja, como algo preocupante para o prejuízo da qualidade de vida daqueles que moram na Região Metropolitana de Goiânia. A imprensa precisa entender que isso não se resolve com análises apaixonadas e passionais de seus integrantes que mal conseguem enxergar que Goiânia, hoje, já conta com três grupos de torcidas, que o Atlético já não é o "queridinho de todos" como alguns insistem em dizer. Já existe indícios de fortes rivalidades do clube campineiro com os dois maiores rivais e que já houve incidentes entre seus torcedores em jogos clássicos.

É preciso investir em pesquisas para não lidar com o "invisível", pois é assim que as autoridades estão lidando sem conhecer profundamente o mundo das torcidas organizadas e do futebol goiano atual. Quem são esses torcedores por clube representados? Como agem? O que consomem? Qual o perfil econômico e cultural deles? Onde se concentram? E como participam de suas torcidas organizadas? Somente assim poderemos fazer um mapa mais preciso da violência no futebol goiano e, com isso, tentar minimizar seus impactos negativos sobre a qualidade de vida dos moradores da Região Metropolitana e voltar fazer com que o futebol seja um instrumento de lazer e cultura para nós goiano e goianiense.

Chega de atitudes que não levam a nada. Impedir camisetas de torcidas organizadas só fez com que os torcedores comuns fossem inseridos nas confusões e passaram a apanhar de graça, deixando de ir aos estádios. Impedir instrumentos musicais só fez o estádio ficar mais monótono do que uma quadra de tenis. Impedir bandeiras, simplesmente tirou uma das almas e dos símbolos do estádio de futebol. Deixando-o feio e sem cor. Tudo isso já foi tentado, mas foi proposto por pessoas que não vivem o futebol, estão sempre em seus escritórios com ar condicionado sem conhecer a realidade. Vamos ser mais responsáveis, todos nós, e tentarmos organizar algo a partir da realidade e do conhecimento. Investir um pouco mais vai ser menos prejudicial social e economicamente no futuro próximo.

Abraços a todos e todas

quarta-feira, 6 de julho de 2011

TERRITÓRIOS EM DISPUTA: Os Territórios Rurais e de Cidadania e o Movimento Sindical

Desde 2003, o Governo Federal vem criando espaços territoriais para planejar as políticas públicas de desenvolvimento local no território brasileiro. Trata-se dos Territórios Rurais e Territórios de Cidadania criados ao longo desses 9 anos de mudança no poder executivo com a chegada do Governo Lula ao poder e a continuação de seus princípios populares no Governo Dilma. São 164 Territórios criados para proporcionar uma forma diferente de planejamento de políticas públicas para o desenvolvimento local. O objetivo maior é fazer com que as demandas partem da sociedade local e seja de acordo com suas reais necessidades e, com isso, proporcionar um desenvolvimento endógeno, ou seja, que parta de dentro para fora das comunidades atendidas.

São 2.500 Municípios atendidos, com 52,5 Milhões de pessoas, sendo 458 Mil Pescadores, 2,5 Milhões de Agricultores Familiares, 645 Mil Assentados da Reforma Agrária, Mil Comunidades Quilombolas, 377 Terras Indígenas. Com uma demanda social de 3 Milhões de Famílias e 948 Municípios Estagnados. A novidade por parte do Governo Federal está na chamada “Abordagem Territorial” utilizada como metodologia para elencar as prioridades de ações e projetos das políticas públicas do Governo para o desenvolvimento local. Esse tipo de abordagem leva em consideração todos os atores sociais presentes no território, sejam eles da sociedade civil, organizada ou não, e dos governos municipais e estaduais.

Nesse sentido, foram criados os “Colegiados Territoriais”: grupo de gestores do território composto por representantes da sociedade civil e de órgãos governamentais que irão coordenar o trabalho de definição dos programas governamentais com suas ações e projetos para o território. Dessa forma, todos os recursos investidos nos municípios que estão contidos nos territórios deverão passar ser para atender os projetos e ações levantados pelo Colegiado Territorial. Esse tipo de política descentralizadora pode proporcionar – e a idéia é justamente essa – a emancipação da sociedade civil diante do aparelhamento político das estruturas estatais aos políticos e seus chamados “currais eleitorais”, ou seja, área de influência de determinados políticos que se impõe pelo poder de barganha de votos por favores de interesses individuais ou coletivos.

Na mesma lógica dos programas de Orçamento Participativo implantados pelas prefeituras dirigidas pelo Partido dos Trabalhadores, os Territórios Rurais e de Cidadania definem onde e como serão aplicados os recursos da União em seus municípios. Hoje, uma lógica já foi alterada e pode ser facilmente percebida: os prefeitos estão frenquentado as plenárias dos colegiados para submeterem seus projetos aos mesmos. Houve uma inversão de valores que colocam os principais atores em seus devidos lugares no momento de decidirem o rumo de seu desenvolvimento.

Contudo, ainda é notória a desarticulação da sociedade civil na participação dos colegiados que, em geral, são dominados por técnicos de órgãos governamentais que defendem os interesses das oligarquias políticas e econômicas tradicionais e conservadoras. A Sociedade Civil precisa se atentar para a importância de participar dos colegiados de forma articulada a atender os interesses da classe trabalhadora. Propor modelos de desenvolvimento que possibilitam a inversão de valores sobre os empreendimentos a serem atendidos pelos programas governamentais.

Os sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras têm papel fundamental nesse processo de organização da sociedade civil para participar dos colegiados. A experiência da participação da Escola Centro Oeste de Formação da CUT – Apolônio de Carvalho no processo de elaboração e qualificação do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável dos Territórios de Cidadania e Territórios Rurais de Goiás e Entorno de Brasília, pôde nos mostrar quão é importante a organização e articulação dos sindicatos  da base da Central Única dos Trabalhadores para a disputa de projetos que possam atender as demandas da classe trabalhadora nos territórios. Precisamos compreender que são “Territórios em Disputa” pelos diversos grupos sociais, organizados ou não, com seus respectivos projetos. Esses grupos precisam compreender que, acima de tudo, essa disputa se dá no campo da Luta de Classe e que a classe trabalhadora precisa se organizar melhor e se articular com projetos que visam a diminuição das desigualdades sociais e a inversão da lógica de aplicação de recursos públicos no Brasil.

A CUT e seus sindicatos têm papel importante na defesa dos interesses da classe trabalhadora no Brasil e os espaços deliberativos de políticas públicas para projetos importantes são fundamentais para a efetivação de um sindicalismo propositivo e que pauta os rumos do desenvolvimento social, cultural, econômico e ambiental do país com o compromisso de melhorar a situação de milhões de trabalhadores e trabalhadoras em situação de vulnerabilidade na sociedade brasileira. Os territórios podem ser grandes instrumentos de transformação dessa realidade, mas para isso, é preciso que nós trabalhadoras e trabalhadores tenhamos definidos os nossos projetos de sociedade.

São mais de 1 Bilhão de Reais aplicados em cada território, mas os recursos são disputados por vários grupos sociais e em diversos tipos de projetos, desde a compra de um trator até o financiamento de um projeto de lavoura ou a construção de uma escola ou hospital. As forças conservadoras estão se organizando cada vez mais para participar dos territórios e viabilizar seus projetos à medida que se apropria melhor da estrutura territorial que está em andamento. Na luta pela Democratização do Estado que iniciamos no movimento sindical cutista temos nos territórios um grande desafio para colocar nossas propostas de ações em prática.
Ubiratan Francisco de Oliveira
Prof. Mestre em Geografia
Assessor de Formação da ECO-CUT

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Código Florestal: eis "as questões"

Os debates calorosos sobre a reforma do Código Florestal dominaram os mais diversos espaços físicos e virtuais do meio político e social da sociedade brasileira nos últimos meses. A polêmica decisão em diminuir as áreas de proteção ambiental permanente caíram como um meteoro arrasador sobre nossas cabeças. Uma vez que o Brasil vem avançando, nos últimos anos, sobre o tema ambiental e preservação de florestas. Seria uma incoerência profunda o Governo aprovar essa demanda que parte do Congresso Nacional para o gabinete presidencial. No que tange a postura do Congresso Nacional, nada que me impressione, uma vez que esta casa sempre representou os desejos dos pecuáristas latifundiários.
Poderiam até dizer que é estranho eu não me impressionar com a postura de Aldo Rebelo do PCdoB em ser o relador desse desastre de reforma legislativa. Sinceramente, nada que vêm desse partido me impressiona, ele está cada vez mais longe de suas origens socialistas e mais ainda dos princípios comunistas, no mais, a pauta ambiental nunca foi forte desse grupo de esquerda que historicamente negligenciou a questão ambiental. Não apenas a questão ambiental, mas racial, de gênero e diversidade sexual etc. Todas, na concepção comunista brasileira são questões "anti-revolucionárias", "reformistas", "liberais" etc. Para piorar, a aliança com forças conservadoras no campo político-partidário em alguns estados do país vem colocando em xeque a postura do PCdoB.
Desta feita, as diretrizes orientadoras da possível reforma do Código Florestal são apresentadas pela bancada ruralista da antiga UDR. Dizem pela interent, de uma forma irônica e bem humorada, que Aldo Rebelo conseguiu "Modernizar o PCdoB, trocando a tradicional foice pela motosserra". Mas não é momento de apenas apontar os culpados, além de Rebelo ainda se tem toda a bancada do partido que, nesses momentos, vota em bloco, os rebeldes do PT que não acataram a determinação do partido em votar contrário à reforma e até, os ingênuos movimentos sociais ambientalistas.
Sim, os "ingênuos" movimentos ambientalistas que costumam deslocar o debate para fora da realidade de luta de classes e do sistema capitalista. Ora, a jogada da "UDR" foi de mestre ao colocar na pauta da reforma a "sobrevivência" de pequenos produtores rurais, agricultores familiares e trabalhadores e trabalhadoras rurais. Os ruralistas colocaram a reforma como algo essencial para a sobrevivência dessa classe social, uma vez, que os mesmos estão lançados às margens das áreas de proteção ambiental, pressionados pelo grandes latifúndios. Mais que isso, os ruralistas brasileiros avançam cada vez mais no campo dos trabalhadores e impõem a lógica da classe ruralista e da propriedade privada da produção agrícola sobre aqueles que até pouco tempo se viam como opostos à essa lógica.
É como se cada minifúndio se tornasse sinônimo de latifúndio e passam a se reconhecer como um ruralista e não como um trabalhador rural, logo, abondanam os sindicatos da agricultura familiar e dos trabalhadores rurais para se inserirem em sindicatos rurais e associações pecuaristas. É uma armadilha bem armada pela ala conservadora da agricultura nacional. O debate ambiental diante da questão de sobrevivência humana sempre será derrotado. É preciso fazê-lo sem desconecta-lo do social, do cultural, do político e do econômico. Nesse sentido, diante do debate da diminuição das áreas de proteção ambiental é preciso colocar a pauta da "REFORMA AGRÁRIA". Sim, essa mesma. A única que pode solucionar os problemas que foram levantados, dentre eles o ambinetal e a preservação ou proteção das florestas.
Na verdade, quem lançou os pequenos produtores e agricultores familiares para as margens das áreas de proteção, formando vilas de pescadores, comunidades ribeirinhas entre outros, foi o latifúndio. Ao invés de tirarmos das florestas e sacrificarmos a natureza mais ainda, temos que avançar é sobre o latifúndio, distribuir terras, limitar o tamanho das unidades fundiárias e manter as áreas ambientais protegidas. Mais que isso, estabelecer critérios para recuperar aquelas que foram devastadas ao longo da história.
Outro elemento importante é que os desastres ambientais decorrentes da destruição ambiental são mais danosos aos pequenos produtoes, estes mesmos que muitos ainda defendem a reforma do Código Florestal. Eles precisam compreender que o latifundiário, diante de uma voçoroca, simplesmente levanta seu "acampamento" e vai para outras parte de sua imensa propriedade, essa mesma voçoroca em pequenas propriedades pode significar perda total da propriedade e de sua condição de sobrevivência. É sempre assim, os problemas ambientais são relacionados ao problemas sociais e quando estes afetam as camadas populares os danos se tornam catástrofes.

Abraços a todos e todas

Estou sempre no twitter @BiraAcg acompanhem

Estou de Volta

Depois de um tempo dedicado à minha Dissertação de Mestrado, estou de volta ao nosso blog e vamos permanentemente atualizá-lo.

Abraços a todos e todas

domingo, 27 de março de 2011

A Industrialização Brasileira


Este texto básico é produto dos debates realizados nas aulas de Geografia para o 4º Semestre da Terceira Etapa da Educação Para Jovens e Adultos (EJA), do Colégio Estadual Dr. Pedro Ludovico Teixeira, Trindade, Goiás. Foram elaboradas algumas atividades com base neste conteúdo aqui apresentado e trabalhado em sala de aula. Trata de uma breve abordagem sobre alguns aspectos marcantes do processo de industrialização do Brasil e a consolidação da hegemonia da economia industrial no território brasileiro.

O processo de industrialização do Brasil teve início na virada do século XIX para o século XX, portanto, foi uma industrialização tardia ou periférica por se tratar de um processo de extensão da industrialização clássica ocorrida na Europa no período da Revolução Industrial, século XVIII. A Revolução Industrial consolidou, de uma vez por todas, o modelo de acumulação capitalista como hegemônico na sociedade mundial e ampliou as desigualdades sociais com a concentração de renda nas mãos da elite econômica da sociedade industrial, ou seja, aqueles que controlam os meios de produção: donos das indústrias.

Para ocorrer a industrialização do Brasil, foi necessário, em primeiro plano, a extinção do trabalho escravo no país. Afinal de contas, os sistemas escravocratas não permitem a ampla distribuição da produção por contar com uma imensa massa de trabalhadores sem salários e, portanto, sem poder de compras dos produtos fabricados em grande escala. Além do mais, o principal produto brasileiro do final do século XIX era o café e na  virada do século sofreu consecutivas crises econômicas. Não sendo mais atrativo para os “Barões do Café” do sudeste brasileiro, principalmente do Estado de São Paulo.

Chegou-se a uma condição em que os escravos valiam mais que o produto principal (o café) e tinham um alto custo de manutenção, pois eram pagos a vista, antes mesmo de começarem a trabalhar e necessitava de um bom sistema de segurança para evitar revoltas e fugas de escravos. Mas o principal motivo da eliminação do trabalho escravo era a necessidade de se formar uma massa de trabalhadores assalariados para poder não apenas fabricar os produtos, mas consumi-los. Além disso, crescia o mercado consumidor de produtos importados da Europa nos grandes centros urbanos do país, o que era algo favorável ao investimento na industrialização. Outro fator importante da relação capital x trabalho no processo de industrialização do Brasil é o fato de a massa de trabalhadores escravos não permitia a modernização da mão-de-obra necessária para se efetivar uma sociedade industrial nos moldes da divisão internacional do trabalho.

Eles deveriam ter acesso à educação e isso era impossível num sistema escravocrata como do Brasil. Historicamente a população negra não teve acesso à educação para não poder se organizar melhor na luta contra a escravidão. Chegando ao ponto de os portugueses expulsarem da “Colônia Brasil”, de volta para a África, as etnias mulçumanas que sabiam ler e escrever, por possuírem alto grau de organização social entre eles e influenciarem as demais etnias. Mas a elite do café no Brasil estava disposta a mudar a situação para favorecer seus negócios e eles passam a forçar a corte brasileira à extinguir a escravidão no país.

O segundo passo a ser tomado por eles era de reorganizar a adensamento demográfico do país, pois São Paulo era, de longe, um estado populoso, fator primordial para a economia industrial. Deveria ter mais pessoas para trabalhar e consumir os produtos industrializados. Começa então um processo de incentivo à migração rumo ao “progresso” e ao “verdadeiro” desenvolvimento social e econômico da sociedade brasileira. O alvo era o povo do Nordeste Brasileiro, região de maior adensamento populacional e, portanto, de uma imensa massa de trabalhadores e trabalhadoras.

Por se tratar de uma região carregada de alto índice de pobreza e miséria, não foi difícil o convencimento para que os migrantes pegassem a estrada rumo a São Paulo. Tomada por “coronéis” rurais que concentram as terras em imensos latifúndios, os trabalhadores e trabalhadoras rurais do nordeste brasileiros eram empurrados e excluídos das terras férteis existentes na região e lançados rumo ao sertão da caatinga, seco e “improdutivo” proporcionando a vida miserável do povo sertanejo nordestino. A seca do nordeste deixa de ser um fenômeno apenas natural para se tornar social, sobretudo, ideológico e político nas mãos da elite política do Brasil que, ao incentivar a saída dos trabalhadores e trabalhadoras do nordeste, retirava dos coronéis a possibilidade de revoltas e lutas pela terra e lançava essa massa rumo ao trabalho urbano e industrial. O Mapa 1 apresenta o “Fluxo Migratório” do início do século XX no Brasil e a alta densidade existente no fluxo para São Paulo.


Fonte: http://noticias.terra.com.br/educacao/interna/0,,OI3861158-EI14112,00-Ciencias+Humanas.html

A migração de trabalhadores do sertão nordestino para o trabalho nas indústrias ainda atendia a intenção da elite rural e racista do sul e sudeste em não absorver a mão de obra negra para o trabalho nas industrias e nas cidades. É bom ressaltar que neste período de “libertação” dos escravos, eles foram lançados para fora das cidades sem o direito à educação, saúde e terra para trabalhar. A Lei da Terra de 1860 não foi revogada e a mesma regia a proibição de terras para a população negra. Para intensificar mais o processo de “embranquecimento” da população brasileira, o governo brasileiro incentiva a migração internacional para o Brasil, principalmente de italianos e ingleses. Essa atitude favoreceu a qualificação técnica necessária da população para o trabalho nas fábricas e a expansão das ferrovias rumo ao centro do país.

De qualquer forma, mais tarde essa população negra é absorvida pela divisão internacional do trabalho que é a forma mais concreta da expansão capitalista em seu processo de territorialização pelo mundo. Todos devem ser inseridos no mercado de trabalho para ampliar as possibilidades de consumo e de trabalho, bem como, ampliar as condições de exploração do trabalho humano menos valorizado. Quanto mais mão-de-obra disponível, menores salários e mais exploração da carga-horária, tornando a mais valia[1] cada vez mais poderosa. Com a industrialização do Brasil inicia o processo de urbanização da sociedade que passa a viver cada vez mais nas cidades e menos nos campos. Essa concentração de pessoas nos centros urbanos favorece um crescimento espantoso do setor terciário, crescendo a ocupação no comercio e nos serviços essenciais para distribuição das mercadorias, como transporte e armazenamento.

Nesse sentido, São Paulo, foi estrategicamente se estruturando e favorecido geograficamente por estar próxima aos grandes portos do país, teve o trabalho apenas de ligar estes às ferrovias que partiam rumo ao interior do Brasil para escoamento da produção agrícola da época que abastecia o centro urbano. Com o crescimento da mão-de-obra no setor terciário, havia necessidade de haver outras localidades para realizar a produção agrícola que abastecesse São Paulo. Foi assim, que a ferrovia se tornou serviço estratégico para a ligação do Triângulo Mineiro, Oeste Paulista e Sul de Goiás e Sudeste do Mato Grosso com a economia industrial paulista. A expansão da estrada de ferro foi prioridade até a década de 1930 quando o Governo Getúlio Vargas, passou a incentivar a criação de rodovias para alavancar o comércio de combustíveis, automóveis e da indústria da borracha que crescia significativamente no país.

Com a consolidação da economia industrial em São Paulo na década de 1930, o Governo Vargas inicia o processo de expansão desta economia para o Centro-Oeste e Norte do Brasil. Era preciso que a economia capitalista se expandisse para se fazer hegemônica em todo território brasileiro. O Centro-Oeste se encontrava em estado de economia semelhante à “pré-capitalista” devido ao alto índice de produção de subsistência de sua agricultura. Poucos eram os produtos comercializados que tinham o arroz como principal mercadoria agrícola e o boi como o ponto forte da economia sertaneja do Centro-Oeste.

A relação capital X trabalho era a mais precária possível com alto poder de troca, a moeda quase não circulava e grande parte dos trabalhadores e trabalhadoras viviam em espécie de controle “cultural” dos coronéis. Para alguns estudiosos, o sistema agrário brasileiro foi semelhante ao sistema feudal europeu, onde os senhores tinham o controle do trabalho e da produção de seus servos. Os coronéis eram quase senhores feudais, tinham o controle econômico e político. Pagavam pelo trabalho de “seus peões” o que queriam e quando queriam. Muitas vezes implantavam o chamado “sistema de barracões”, uma espécie de escravidão sem correntes. Os trabalhadores e trabalhadoras eram explorados em troca de “poder morar” na propriedade e tinham que pagar pela comida e coisas que adquiriam na propriedade. Os patrões estabeleciam uma dívida impagável para que eles pudessem explorar o máximo o trabalho de seus peões e peoas.

Com a chegada da estrada de ferro no Triângulo Mineiro e depois no Sudeste Goiano, instaurou-se uma disputa pelo poder entre os antigos e os novos coronéis da política sertaneja. Os “novos” coronéis estavam inspirados no poder da economia industrial e a vida urbana do sudeste brasileiro e queriam implantar essa lógica no Centro-Oeste e Norte do país. A estrada de ferro, trazia para o interior não apenas os trilhos e o Trem-de-Ferro, mas a chamada Divisão Internacional do Trabalho, ou seja, o trabalho assalariado. Fomentava a indústria de beneficiamento do arroz e de produtos do leite e do gado. Começaram a ser implantadas as chamadas “Máquinas de Arroz”, os frigoríficos e cortumes e os laticínios. Era o início da industrialização da agricultura.

O comércio das cidades da estrada-de-ferro (Mapa 2) crescia rapidamente dando dinamismo à economia local e inserindo antigos trabalhadores rurais no mercado de trabalho urbano. Crescia também os trabalhadores e trabalhadoras assalariados(as) e com isso, circulava mais moedas, deixando de ser aquele estado econômico quase “pré-capitalista”, para o capitalista moderno.



Com o processo de modernização da agricultura se consolidando no Brasil entre as décadas de 1960 e 1980, dois grandes projetos urbanos foram fundamentais para esta consolidação: A criação de Goiânia, Capital de Goiás e a criação de Brasília, Capital Federal. A criação dessas cidades trouxe fluxo migratório para o território goiano que mudou completamente seu dinamismo demográfico, econômico e social, ampliando a massa de trabalhadores e trabalhadoras e consolidando o mercado de produtos e serviços como principal atividade econômica da atualidade por representar maioria absoluta do PIB goiano nos últimos anos. Como forma de dinamizar melhor a administração territorial da produção agrícola e pecuária, os estados de Goiás e Mato Grosso foram divididos, dando origem aos estados Tocantins (1988) e Mato Grosso do Sul (1979).
Mapa 3



A analisarmos o Mapa 3 podemos observar a distribuição das atividades industriais no Brasil e como o Estado de Goiás é o estado do Centro Oeste com maior concentração de firmas. A imagem expressa bem como foi e é o processo de avanço das atividades industriais do sudeste para o centro-norte do país. Dessa forma, Goiás foi a base para a expansão capitalista industrial no centro-norte do Brasil.

No Mapa 4 podemos observar melhor como as atividades industriais de maior porte estão concentradas nas regiões de Goiânia e Brasília quando se observa o Estado de Goiás no mapa do Brasil. Em ambos os mapas pode-se perceber que as manchas de concentração da atividade industrial são quase contínuas no sentido de São Paulo para Goiás, formando o trajeto da estrada de ferro Mogiana que partiu de São Paulo, passou pelo Triângulo Mineiro e chegou no sul de Goiás no início do século XX.  Este é o caminho seguido depois pela descentralização da indústria brasileira pelo interior do Brasil.



Mapa 4



As conseqëncias dessa transformação no Estado de Goiás pode ser percebida na distribuição da população no território goiano. As maiores concentrações populacionais estão na Região Metropolitana de Goiânia e Região do Entorno do Distrito Federal, formatando os mesmos desenhos da espacialização das atividade industriais e de dinamização da economia com o comércio e seviço.

Se analisarmos os principais municípios goianos por PIB (Produto Interno Bruto), ou seja, suas riquezas produzidas por ano, podemos perceber que, entre os 10 principais, somene quatro têm a agropecuária inserida na geração do PIB. Os principais municípios em geração de riquezas têm a indústria e o comércio como principais atividades. Tirando aquele estigma de que a economia goiana é mantida pela agropecuária. Na verdade todo o projeto nacional e internacional de expansão capitalista industrial para o sertão brasileiro que teve início no começo do século XX foi bem sucedido.

Esta lista se refere aos 10 municípios do estado de Goiás com PIB superior a R$1 bilhão de reais. Estes dados se referem ao ano de 2008.
Posição
Cidade
PIB em reais
População*
PIB per capita
Base da economia
1
19 457 328
1.301.892
15 376
Indústria, comércio e prestação de serviços
2
6 265 480
335.032
18 910
Indústria farmoquímica e comércio
3
3 873 756
455.735
7 827
Indústria, comércio e prestação de serviços
4
3 615 987
176.502
22 768
Agropecuária e indústria
5
3 348 904
86.597
42 062
Indústria, comércio, prestação de serviços e agropecuária
6
2 304 014
84.399
30 599
Indústria, comércio e prestação de serviços
7
2 047 097
92.942
22 289
Indústria e agropecuária
8
1 860 945
88.048
21 767
Agropecuária e Indústrias
9
1 805 535
174.546
8 859
Comércio e prestação de serviços
10
1 343 049
17 086
93 866
Comércio e agropecuária e Indústrias

*Dados do IBGE de 2008.
Percebe-se pelo gráfico exposto no site da Secretaria de Planejamento do Estado de Goias: WWW.seplan.go.gov.br , que a atividade industrial está presente na maioria absoluta dos municípios mais dinâmicos da economia goiana e, com isso, mostra também que a expansão capitalista industrial pelo Centro Oeste teve em Goiás o seu “Portal de Entrada”.

Espero que este simples texto possa contribuir com nossas aulas.

Boa leitura e ótimas reflexões.

Professor Ubiratan Francisco de Oliveira
Geografia



[1] Mais Valia: termo trabalhado por Marx em “O Capital” que se refere à acumulação de capital do patrão em cima da exploração do trabalhador na linha de produção. Ela consiste em ganhar o máximo possível no valor final do produto em detrimento à valorização da mão-de-obra disponibilizada para sua produção.

Direitos Iguais na Diferença: Gênero e Raça na luta sindical

Fiquei um bom tempo me preparando para escrever este pequeno texto sobre a abordagem de políticas permanentes no movimento sindical Cutista dos últimos anos. Pensei sobre qual a melhor maneira de iniciar este diálogo com os companheiros e companheiras do movimento sindical do Brasil, principalmente da Região Centro Oeste – que é minha área de atuação na Escola Sindical Apolônio de Carvalho. Pensei se começaria conceituando raça e gênero e, partindo da etimologia, iniciaria um trajeto metodológico que chegasse até suas dimensões sociopolíticas da sociedade contemporânea. Poderia também, iniciar a partir da leitura das origens das desigualdades sociais no Brasil e como mulheres e negros se encontram nesse contexto. E muitas alternativas foram passando por minha mente.

Mas, num instante, algumas lembranças de nossa trajetória educativa vieram nos orientar neste pequeno ensaio. Lembrei-me de um momento em que iniciávamos um curso de formação sindical para dirigentes de um sindicato em Goiânia, quando um dos mais antigos e respeitados diretores desse sindicato destacou em sua fala: “Aproveitem bastante esse momento de formação, pois vocês precisam disso!! Nós não!! Nós já sabemos de muita coisa por que já fizemos todos os cursos de formação sindical que pudemos participar.”

Ao final dos trabalhos após termos trabalhados todos os conteúdos propostos, inclusive, os temas sobre as políticas permanentes da CUT (Raça, Gênero, Diversidade Sexual, etc.), nos deparamos com esse mesmo dirigente “sabidão” contradizendo a linha política da CUT ao dizer que: “onde já se viu cotas pra pretos? Onde esse mundo vai parar?” ou então nos momentos de “descontração” em que foi pego contando piadas preconceituosas contra a mulher, negros, nordestinos, estrangeiros, etc. afinal, tente encontrar alguma piada que não seja de cunho preconceituoso.

Mas após as intervenções do dirigente sindical, podemos fazer algumas reflexões: primeiro que a formação deve ser contínua e permanente, afim de atualizar o conteúdo com as mudanças da nossa sociedade; segundo, que, fica a dúvida sobre seu compromisso com os cursos que andou fazendo na CUT, pois os debates acerca das questões raciais e de gênero não são de agora no movimento sindical; terceiro é que devemos levar em consideração o padrão político conservador que precisamos destruir na esquerda e nos movimentos sociais da região Centro Oeste, ou seja, precisamos lutar contra o “vírus-social” do machismo e racismo impregnados da herança coronelista que temos.

O material produzido pela Secretaria Nacional de Formação da CUT – SNF – para o curso de Organização e Representação Sindical de Base (ORSB) traz em seu primeiro fascículo a história das diferenças sociais no Brasil com um bom enfoque à questão racial e a forma violenta com que os negros no Brasil foram excluídos de todas as formas possíveis de políticas públicas para o desenvolvimento humano.

Com o fim do processo de abolição da escravidão, sem participação dos quilombolas e dos abolicionistas comprometidos com os direitos civis, termina a exploração através de trabalhos forçados e tem início a mais perversa exclusão social... [...] A formação os primeiros núcleos de favelas nas grandes cidades, como Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo coincide com o processo de abolição da escravatura. Segundo alguns estudos, a “liberdade” do negro não foi acompanhada de oportunidade de acesso a terra, ao contrário, os ex-escravos foram proibidos por Lei de ter propriedades rurais. [...] Para os senhores de terra e escravos e para as elites políticas da época, se tratava de virar a página da história, como se isso fosse possível. Pelo menos é o que indica a total ausência de políticas de integração do negro na sociedade e na vida econômica do país e o seu confinamento nas periferias das cidades. Ou seja, nenhuma indenização, nem acesso à educação ou formação profissional e muito menos acesso à terra e à moradia. Portanto, mais que um processo de exclusão social pode-se falar também em exclusão étnica ou racial. (CUT, 2010, p. 14)

Precisamos, de fato, enxergar a questão étnica-racial como fato social e como tal, ser encarada como uma verdadeira e legítima luta de classe. As estratégias da direita ultraconservadora de nosso país têm nos colocado uns-contra-os-outros em nossa própria classe de trabalhadores e trabalhadoras ao afirmarem, categoricamente, que a luta pela inclusão social não pode ter as questões étnicas-raciais, de gênero ou diversidade sexual, inserida em sua pauta de “classe trabalhadora”. Precisamos ter cuidado quando nossos verdadeiros inimigos proclamam por nós a “democracia social”. É no mínimo um equívoco quando um trabalhador ou trabalhadora se posta contra as cotas raciais nas universidades em conjunto com o relatório do Senador Demóstenes Torres (DEM-GO), inimigo histórico da causa trabalhadora no país e aliado da oligarquia ruralista herdada pela UDR no Centro-Oeste.

Com um discurso impregnado de meritocracia excludente, os adeptos dessa linha de raciocínio ignoram a história da luta de classes no Brasil e suas profundas relações com a violência contra negros, indígenas e, principalmente mulheres, que, ao longo de mais de três séculos estiveram à mercê violência praticada por forças brancas e machistas da oligarquia portuguesa na “Colônia Brasil”. Precisamos, acima de tudo, compreender que a luta por direitos iguais se faz na diferença, seja ela, racial, étnica ou de gênero.

No movimento sindical não podemos mais aceitar que pesquisas apontem o machismo como marca profunda das práticas sociais de nossos companheiros e companheiras. Em uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), intitulada como “Retratos da Escola”, de abril de 2003, podemos observar que 36% das trabalhadoras da educação fazem as atividades do lar sozinhas e das que figuram entre 22% que contratam alguém, tiram do seu próprio salário o ônus da contratação. Isso, nos mostra o perfil machista de nossa sociedade retratado na educação brasileira.

Quando companheiras que estão à linha de frente da escola e, portanto, com oportunidades de proporcionar mudanças sociais significativas se deparam com problemas clássicos em seu cotidiano podemos dizer que precisamos ainda caminhar muito e a passos longos para uma possível transformação dos hábitos e costumes tradicionais e conservadores.

Como falar em conquistas no mundo do trabalho sem ponderar a necessidade de equiparação de salário de nossas companheiras que recebem menos que os homens, mesmo exercendo a mesma função? A Convenção 100 da OIT, “concernente à igualdade de Remuneração de mão-de-obra masculina e mão-de-obra feminina por um trabalho de igual valor.” A convenção 111, já nos diz respeito à luta contra discriminação por raça, cor, sexo, opinião política, nacionalidade, dentro das corporações empresariais. A verdade é que a situação de salários desiguais para a mesma função piora quando se trata da mulher negra que, em geral, recebe menos que a mulher branca que já recebe menos que os homens brancos e estes também recebem mais que os homens negros.

Durante um de nossos encontros formativos na Escola Apolônio de Carvalho, a Professora e Pesquisadora em Geografia, Lorena Francisco, nos apresenta o seguinte gráfico sobre o rendimento da população branca e negra em nosso país, por regiões brasileiras.


Observando melhor o gráfico, podemos verificar que, mesmo na região onde o rendimento é menor, ou seja, a região mais pobre do país, no caso do gráfico, o Nordeste, a população negra ainda recebe menos que a branca, repetindo a lógica de todas as regiões brasileiras. Dessa forma, podemos concluir que, mesmo se tratando de diferenças de classes, a população negra vive em situação pior que seus companheiros e companheiras de classe social.

Essa situação sócio-econômica vai influenciar no desenvolvimento educacional dos negros e das negras do Brasil como também nos apresentou a Professora Lorena Francisco no gráfico seguinte. Em média, os alunos e alunas negro e negras estudam 2,3 anos a menos que os de cor branca. Segundo pesquisa desenvolvida por ela, essa diferença é histórica e, mesmo quando a taxa de escolaridade aumenta em ambas as raças, a diferença segue presente entre elas.

Ora, como construir a luta da classe trabalhadora no Brasil sem levar em consideração esses números? Como o patronato reagirá diante das estatísticas ao proporcionar a inserção de ambas as raças no mercado de trabalho? Aliás, não seria algo programado, uma vez que é o mesmo patronato da escravatura do Brasil Colonial? Podemos refletir mais ainda sobre a inexistência de uma “democracia racial” ao compararmos os dados sobre estudantes do ensino básico e do ensino superior por cor. Se temos  maioria negra no ensino básico, essa lógica não deveria ser a mesma no ensino superior? Por que essa maioria de negros não conseguem acessar as universidades, em especial, as de caráter público? Que sistema de avaliação é esse? Ou que nível de ensino é proporcionado a essas classes sociais?

Podemos observar que a diferença já começa a mudar de rumo no próprio Pré-vestibular, que meso sendo em pouco número, já há uma inversão entre alunos(as) brancos(as) e negros(as).
Nós, quanto legítimos defensores da classe trabalhadora, ainda vamos fechar os olhos para esses números? Para essas realidades? Sei que logo alguém pode vir aqui e questionar: Mas, é preciso melhorar a qualidade do ensino básico para proporcionar a igualdade racial na educação e não implantar as cotas!!!! Ou então, essas cotas vão proporcionar a precarização do ensino superior, que terá que se adaptar às condições desses e dessas estudantes!!!, Ohhhh!! Gritam as vozes da justiça de classes!! Gritam as vozes que defendem a “democracia racial” da esquerda brasileira!!

Tudo bem que precisamos, urgentemente, iniciar um processo de melhoria da qualidade do ensino básico no Brasil, essa melhoria vem, inclusive, com a valorização dos profissionais da educação, melhoria das condições de trabalho nas escolas e das estruturas para receber essa imensa demanda. Mais que isso, é preciso que se pense em que modelo de educação vai nos basear para tal transformação. Esse modelo que ai está? Já paramos para pensar além das nossas lutas trabalhistas, o tipo de sociedade que queremos? E o que nossa categoria tem a contribuir para implantar essa sociedade ideal?

Companheiros e companheiras!! Serão necessários quase que cinqüenta anos, metade de um século, de espera para que essa nova educação seja uma realidade em nosso país. Se levarmos em consideração que temos, aproximadamente 80 anos de educação pública brasileira, veremos que é como construir um novo sistema educacional. Por outro lado, as mudanças precisam ser emergentes, já não podemos esperar tanto tempo assim, mesmo pra quem esperou séculos. Mas, uma coisa já foi constatada, o desenvolvimento humano é surpreendente e colocou em xeque o sistema de avaliação que adotamos no país ao constatar que estudantes cotistas tiveram bons e ótimos rendimentos nas universidades que adotaram o sistema de cotas. A classe trabalhadora negra de nosso país nos deu como resposta que é preciso oferecer a oportunidade que ela faz a diferença.

Em 25 de maio de 2008, é publicada a notícia sobre o desempenho de alunos cotistas no portal WWW.terra.com.br com o título: IPEA: cotistas têm melhores notas em universidades.
No universo de 54 universidades públicas que nos últimos oito anos adotaram o sistema de cotas no País, em ao menos quatro, distribuídas pelos principais Estados, alunos negros apresentam desempenho próximo, similar ou até melhor em relação aos não-cotistas. Resultados iniciais do aproveitamento de cotistas na Unicamp, Universidade Federal da Bahia (UFBa), Universidade de Brasília (UnB) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), derrubam mito de que, graças à ação afirmativa, alunos negros estariam "entrando pela janela" das instituições superiores da rede pública. As notas lhes abriram o caminho da porta da frente.
Isso, já é suficiente para quebrar qualquer argumento contrário às cotas no país, mas não paramos por ai. Podemos também questionar por que nunca ninguém falou nada da chamada “cota do boi” quando os coronéis tinha vagas garantidas nos cursos de Medicina, Engenharia e Direito nas melhores universidades públicas do país. Vejam só, ninguém os chamou de “burros” ou “desqualificados” para estarem lá. Por outro lado, por que, não houve todo esse fervoroso debate quando se implantaram em todo o Brasil cursos de nível superior sem processo de vestibular para professores e professoras que já estavam em sala de aula? Não se questionou o curso de Pedagogia Indígena  para essa população?

A resposta pode ser que para a área da docência não se têm disputa de classes, já é destinado à classe trabalhadora por natureza. Mas entrar no campo dos “DOUTORES” já é uma façanha, uma ousadia, que jamais poderíamos pensar em fazer.

No campo da relação de gênero, nós não podemos pensar apenas na questão salarial. É preciso pensar nas condições de trabalho e a forma diferenciada de tratar a mulher trabalhadora. Sua luta pela creche, pela licença maternidade é uma realidade que muitas vezes não entram nas pautas de negociação coletiva das categorias de trabalhadores e trabalhadoras. A luta pela legitimidade da responsabilidade paterna dentro do local de trabalho também é uma realidade a se verificar. Afinal, é preciso que patrões e companheiros assumam que a responsabilidade pelos filhos não é apenas da mulher. Que é algo a ser compartilhado entre companheiro e companheira.

É preciso entender que nossos sindicatos precisam parar de “torcer o nariz” quando se fala em cotas de gênero para compor diretoria, fazer formação sindical e que a educação de gênero é algo necessário para diminuir a violência contra a mulher, praticada por trabalhadores das mais variadas categorias do nosso mundo do trabalho. Somente assim, poderemos criar um movimento sindical melhor para também, lutar por um mundo melhor e mais IGUAL NAS DIFERENÇAS.

Professor Ubiratan Francisco de Oliveira
Mestre em Geografia pelo IESA-UFG e Assessor de Formação Sindical da Escola Centro Oeste da CUT Apolônio de Carvalho 2009 a 2012 e Professor da Rede Estadual de Ensino em Goiás